A pandemia de COVID-19 alcançou mais de 100 milhões de casos em todo o mundo1. A segunda onda de casos indica que não é o momento de afrouxar os cuidados. Estudos comprovam que o vírus SARS-CoV-2 permanece infeccioso por horas no ar e por dias em superfícies2 3 . Entretanto, já existem soluções cientificamente comprovadas que podem auxiliar no combate e na redução da carga viral de forma eficiente4. Conheça a seguir tecnologias baseadas em luz para “iluminar” a pandemia.
Breve histórico
O uso da luz como microbicida, isto é, agente contra microrganismos, é verificado desde o século XIX com experimentos do biólogo Émile Duclaux que concluiu a efetividade da luz solar contra muitas espécies de bactérias. Em 1877, Downes e Blunt já descreviam que alterações nos parâmetros da luz podem tornar o efeito microbicida mais eficiente, como a intensidade, a duração da exposição e o comprimento de onda (em particular, a variação entre azul e ultravioleta)5. O primeiro relato que comprovou o efeito virucida foi feito em 1928 por Rivers e Gates, que inativaram partículas virais com uso da luz ultravioleta6.
A literatura científica tem muitos outros exemplos no uso da luz contra microrganismos, inclusive o Prêmio Nobel de Medicina em 1903, Niels Finsen7. Entretanto, estes estudos avançaram ao longo do século XX, e atualmente há um arsenal de estratégias disponíveis para o combate da pandemia.
Luz ultravioleta natural
A luz ultravioleta (UV) é naturalmente emitida pelo Sol, e pequena parte de seu espectro (UV-C) tem propriedades antimicrobianas. Contudo, com a absorção desta radiação pela camada de ozônio, as reações fotoquímicas induzidas pela UV-A e UV-B protagonizam efeitos bioquímicos capazes de reduzir a infectividade de vírus atmosféricos sensíveis a luz UV à 0,1% ao longo de um dia de exposição8.
Além disso, a radiação ultravioleta solar participa do controle de produção da vitamina D, responsável por estimular a via metabólica do peptídeo que atenua a resposta inflamatória sistêmica9. Assim, a incidência de luz solar poderia indiretamente reduzir o agravamento de infecções do trato respiratório, como a COVID-1910. Entretanto, ainda não há evidências conclusivas que comprovem a redução de infecções do trato respiratório dada a suplementação de vitamina D.
Luz ultravioleta germicida
Lâmpadas de UV-C são usadas em hospitais e indústrias para propósitos de descontaminação. Assim, ganham utilidade na inativação de vírus presentes no ar quanto em superfícies. Um estudo observacional realizado em 1957 durante a pandemia de gripe notou que a taxa de infecção entre enfermos caía em média de 18,9% para 1,9% a partir da instalação de luminárias de UV-C11. Vale notar que a efetividade da descontaminação do vírus da gripe decai com o aumento da umidade relativa do ar12.
Há outros fatores que também podem influenciar a inativação de vírus em geral, como a temperatura, a estrutura bioquímica da partícula viral, além da umidade relativa13. Contudo, em ambiente laboratorial já está comprovado que a dose letal para a inativação de 99% do SARS-CoV-2 é menor que 1 segundo de exposição para radiação UV-C (254 nm)14.
Terapia fotodinâmica e fotoantimicrobianos
A luz visível pode adquirir a propriedade antimicrobiana em conjunto com certos componentes fotossensíveis. Estes, quando expostos à luz, são excitados e submetidos a reações fotoquímicas que provocam a oxidação que atacará o alvo bioquímico. O processo descrito pode ser usado contra infecções virais, bacterianas, fúngicas e parasitárias15. Este método, conhecido por TFDA (terapia fotodinâmica antimicrobiana ou antimicrobial photodynamic therapy – aPTD) já foi comprovado eficiente contra o SARS-CoV-2 em ambiente extracorporal16. E mais recentemente a TFDA foi usada na desinfecção deste vírus localizados na cavidade nasal e oral de pacientes em estágios iniciais da COVID-19. Embora a técnica possa reduzir a progressão da doença não pode ser considerada um procedimento terapêutico, visto que tem alcance local, enquanto a infecção é sistêmica17.
Esses resultados podem desencadear futuros tratamentos contra a doença. Além disso, os elementos fotossensíveis podem formar materiais fotoantimicrobianos quando incorporados em outros materiais. Isto traria segurança biológica à itens guardados, superfícies ou líquidos18.
Luz azul antimicrobiana
A luz azul tem efeito antimicrobiano e já é usada na descontaminação contínua de salas de saúde19 20. Contudo, não é tão eficiente quanto a luz UV-C, e pode ferir a visão quando não observado os cuidados em sua manipulação. Em relação ao combate do COVID-19, um estudo bioinformático apontou é possível matar o vírus infectado usando a luz azul através da fotoexcitação21, desde que a simulação se confirme experimentalmente.
Terapia de fotobiomodulação
A terapia de fotobiomodulação utiliza baixa quantidade de luz vermelha ou próxima do infravermelho para acelerar a recuperação de feridas, reduzir a dor e a inflamação22. Nesse processo as células iluminadas aumentam a geração de ATP, o que provoca os benefícios citados23. Estudos em animais pequenos com infecção pulmonar tiveram resultados positivos, mas a penetração da luz não seria tão fácil em humanos. Mesmo assim, o procedimento é mais efetivo em células hipóxicas24, que é uma condição observada em pacientes de COVID-19. Isso sugere um tratamento interessante a ser aprofundado, especialmente porque o LED não provoca variações de calor relevantes e dispositivos desta terapia já foram aprovados pelo FDA para usos em geral25 e para pacientes com lesões não tumorais26.
Radiação de laser ultrarrápido
A tecnologia que usa pulsos curtos de laser de luz visível próximo do infravermelho já se provou eficiente contra diversos vírus sem causar prejuízos para as células humanas ou de roedores27 28 29. O procedimento preserva as células animais, logo, esta solução poderia ser utilizada na inativação de patógenos em produtos derivados de sangue, alimentos crus, fármacos e até em vacinas sem produtos químicos30 31.
Texto redigido a partir do artigo Light-based technologies for management of COVID-19 pandemic crisis de Sabino, C. et al. (2020)32.
A BioLambda tem o compromisso em oferecer soluções tecnológicas baseadas em luz para garantir a segurança biológica em laboratórios, hospitais e indústrias. Por se tratar de segurança, todos produtos oferecidos tem qualidade auditável e contam com profundos estudos científicos.
Referências
- COVID-19 Dashboard by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE). Johns Hopkins University (JHU). Disponível em: https://coronavirus.jhu.edu/map.html
- N. van Doremalen, T. Bushmaker, D.H. Morris, et al. Aerosol and surface stability of SARS-CoV-2 as compared with SARS-CoV-1 N. Engl. J. Med., 382 (2020), pp. 1564-1567. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmc2004973
- G. Kampf, D. Todt, S. Pfaender, E. Steinmann. Persistence of coronaviruses on inanimate surfaces and their inactivation with biocidal agents. J Hosp Infect, 104 (2020), pp. 246-251. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0195670120300463
- C. P. Sabino, et al. Light-based technologies for management of COVID-19 pandemic crisis Journal of Photochemistry and Photobiology B: Biology, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1011134420304498
- A. Downes, T. Blunt. The influence of light upon the development of bacteria Nature, 16 (218) (1877). Disponível em: https://www.nature.com/articles/016218a0
- T. Rivers, F.L. Gates. Ultra-Violet Light and Vaccine Virus: II. The effect of monocheomatic Ultra-Violet light upon vaccine virus. J. Exp. Med., 47 (1928), pp. 45-49. Disponível em: https://europepmc.org/article/med/19869399
- R. Ackroyd, C. Kelty, N. Brown, M. Reed. The history of photodetection and photodynamic therapy. Photochem. Photobiol., 74 (5) (2001), pp. 656-669. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11723793/
- A. Ben-David, J.L. Sagripanti. A model for inactivation of microbes suspended in the atmosphere by solar ultraviolet radiation. Photochem. Photobiol., 86 (2010), pp. 895-908. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1751-1097.2010.00738.x
- A.K. Abhimanyu Coussens. The role of UV radiation and vitamin D in the seasonality and outcomes of infectious disease. Photochem Photobiol Sci, 16 (2017), pp. 314-338. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28078341/
- W.B. Grant, H. Lahore, S.L. McDonnell, et al. Vitamin D supplementation could prevent and treat influenza, coronavirus, and pneumonia infections. Preprints (2020). Disponível em: https://www.preprints.org/manuscript/202003.0235/v1
- W.S. Jordan. The mechanism of spread of Asian influenza. Am Rev Respir Dis, 83 (2) (1961), pp. 29-40. Pt 2. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/13790691/
- J. McDevitt, S.N. Rudnick, L.J. Radonovich. Aerosol susceptibility of influenza virus to UV-C light. Appl. Environ. Microbiol., 78 (2012), pp. 1666-1669. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3298127/
- C. Tseng, C.S. Li. Inactivation of viruses on surfaces by ultraviolet germicidal irradiation. J. Occup. Environ. Hyg., 4 (2007), pp. 400-495. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/15459620701329012
- C. P. Sabino, et al. UV-C (254 nm) lethal doses for SARS-CoV-2. Photodiagnosis and Photodynamic Therapy, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1572100020303495
- M. Wainwright, T. Maisch, S. Nonell, et al. Photoantimicrobials-are we afraid of the light?Lancet Infect. Dis., 17 (2017), pp. e49-e55. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1473309916302687
- M. Eickmann, U. Gravemann, W. Handke, et al. Inactivation of three emerging viruses – severe acute respiratory syndrome coronavirus, Crimean-Congo haemorrhagic fever virus and Nipah virus – in platelet concentrates by ultraviolet C light and in plasma by methylene blue plus visible light. Vox Sang. (2020). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31930543/
- D. Schikora, J. Hepburn, S.R. Plavin. Reduction of the viral load by non-invasive photodynamic therapy in early stages of COVID-19 infection. American Journal of Virology & Disease, 2 (1) (2020), pp. 01-05. Disponível em: https://www.onomyscience.com/admin/uploads/20200512121757.pdf
- E. Tegou, M. Magana, A.E. Katsogridaki, et al. Terms of endearment: Bacteria meet graphene nanosurfaces. Biomaterials, 89 (2016), pp. 38-55. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0142961216001447
- S.E. Bache, M. Maclean, S.J. MacGregor, et al. Clinical studies of the High-Intensity Narrow-Spectrum light Environmental Decontamination System (HINS-light EDS), for continuous disinfection in the burn unit inpatient and outpatient settings.Burns, 38 (1) (2012), pp. 69-76. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0305417911000908
- M. Maclean, M. Booth, J. Anderson, et al. Continuous Decontamination of an Intensive Care Isolation Room during Patient Occupancy Using 405 Nm Light Technology. J. Infect. Prev., 14 (5) (2013), pp. 176-181. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1757177413483646
- W. Liu, H. Li. COVID-19: Attacks the 1-beta chain of hemoglobin and captures the porphyrin to inhibit human heme metabolism. (2020). Disponível em: https://chemrxiv.org/ndownloader/files/22283226
- L.F. de Freitas, M.R. Hamblin. Proposed mechanisms of photobiomodulation or low-level light therapy. IEEE J Sel Top Quantum Electron (2016), p. 22(3). Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5215870/
- M.R. Hamblin. Mechanisms and Mitochondrial Redox Signaling in Photobiomodulation. Photochem. Photobiol., 94 (2) (2018), pp. 199-212. Disponível em: https://doi.org/10.1111/php.12864
- P.R. Sekhejane, N.N. Houreld, H. Abrahamse. Irradiation at 636 nm positively affects diabetic wounded and hypoxic cells in vitro. Photomed. Laser Surg., 29 (8) (2011), pp. 521-530. Disponível em: https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/pho.2010.2877
- P. Cassano, M.A. Caldieraro, R. Norton, et al. Reported Side Effects, Weight and Blood Pressure, After Repeated Sessions of Transcranial Photobiomodulation. Photobiomodul Photomed Laser Surg, 37 (10) (2019), pp. 651-656. Disponível em: https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/photob.2019.4678
- M.R. Hamblin, S.T. Nelson, J.R. Strahan. Photobiomodulation and Cancer: What Is the Truth?Photomed. Laser Surg., 36 (5) (2018), pp. 241-245. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29466089/
- K.T. Tsen, S.W. Tsen, Q. Fu, et al. Photonic approach to the selective inactivation of viruses with a near-infrared subpicosecond fiber laser. J. Biomed. Opt., 14 (6) (2009), Article 064042. Disponível em: https://doi.org/10.1117/1.3275477
- K.T. Tsen, S.W. Tsen, Q. Fu, et al. Studies of inactivation of encephalomyocarditis virus, M13 bacteriophage, and Salmonella typhimurium by using a visible femtosecond laser: insight into the possible inactivation mechanisms. J. Biomed. Opt., 16 (7) (2011), Article 078003. Disponível em: https://doi.org/10.1117/1.3600771
- S.W. Tsen, D.H. Kingsley, C. Poweleit, et al. Studies of inactivation mechanism of non-enveloped icosahedral virus by a visible ultrashort pulsed laser. Virol. J., 11 (2014), p. 20. Disponível em: https://doi.org/10.1186/1743-422X-11-20
- S.W. Tsen, D.H. Kingsley, K. Kibler, et al. Pathogen reduction in human plasma using an ultrashort pulsed laser. PLoS One, 9 (11) (2014), Article e111673. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0111673
- S.W. Tsen, N. Donthi, V. La, et al. Chemical-free inactivated whole influenza virus vaccine prepared by ultrashort pulsed laser treatment. J. Biomed. Opt., 20 (5) (2015), Article 051008. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25423046/
- C. P. Sabino, et al. Light-based technologies for management of COVID-19 pandemic crisis Journal of Photochemistry and Photobiology B: Biology, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1011134420304498